Imagem acima: cafeigravura

sábado, 22 de maio de 2010

Serenata


A vaca entediada
Mirava saudosa um canteiro
Repleto de mato rasteiro
Parada no meio da praça,
O rabo chicoteando insetos,
Impassível aos brados e gestos
De um louco seresteiro.

- Ó moça sisuda,
Faltam-me brilhantes, mas sobra-me graça.
Peço apenas um riso ligeiro,
Alegria de um dia inteiro
A quem se desespera na praça.
Ofereço minha alma desnuda
Por um instante, não custa nada
Um mero aperceber-se de mim.

Num mugido grave e profundo
Revelou-se o amor ao seresteiro
Que ergueu em prantos o galho imundo,
Guitarra encantada por sabiá laranjeira,
Grão-músico mago de todo o jardim,
E partiu, assim, na sua fantasia mirim.

À vaca o desejo estava mais perto
Ali, no canteiro de mato rasteiro
Cujas folhas balançavam ao vento.
Melodia suave num céu azulado de inverno.

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