Imagem acima: cafeigravura

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A caixa


Caixa aberta é brinquedo
Fechada é segredo.
Toda dor de Pandora
Nos olhos de faca
Doidos para rasgar
O lacre mais justo
Contra a condição de posse
Que há na possibilidade
De perdermos algo.

A caixa é mar aberto
Ou lógica empalhada
Talvez debaixo de um x
Feita de costelas
Esculpida em Carrara
À base de palavras
Dentro de outra caixa
Solta na via láctea
E ainda encerra um enigma
Na inscrição “este lado para cima”.

Lennon/McCartney


Tradução de poesia
Composição em parceria
Na voz de vários intérpretes.
Não
Os críticos não são Yoko.
O grito primordial feminino
É mais contundente
No coração da gente.

sábado, 20 de novembro de 2010

Luto


Morro de medo de morrer
Na rua, um corpo estranho
Invisível e inumano
Monte de penas.

Seco de ciúme da morte
No meu lugar, junta de quem amo
E eu sempre só a lembrança
E ela em todas as fotografias.

Poemeco


O céu enegrecido
Camada grossa de pó
A cidade como cinzeiro
De canos de descarga.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

E corou


Em ritmo de baião
Cortado e tímido
Discreto até o céu
Sobe o fogo
Que deságua em fuligem
E faz lama boa pra pele
Das moças dançando bolero.

sábado, 13 de novembro de 2010

Solidariedade


Num ônibus lotado
O desejo coletivo
De que pelo menos um
Chegue a seu destino.

Haicai livre (XIX)


Barba por fazer
Dilacera o rosto
Do homem civilizado.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Peça

Vieram muitos, mas não todos
Sem convite, sem telefonema
Não deram conselhos, só falaram
Por falar, para lembrar a voz
Mas as frases se repetiam
Ou eram minhas.

Atores num palco escuro
Sem chão e sem fundo
Seu brilho impreciso
De poça noturna
Sem marcação e sem deixa
E atrás das cortinas a Certeza
Jamais haverá último ato.