Imagem acima: cafeigravura

sábado, 30 de outubro de 2010

Depois de amanhã


Range a pele contra o crânio
Esturricado, os poros inflamados
Ásperos ao passar as mãos
E apertar os olhos perto
De ontem pousado no canto
Sem saber se vive vida
Imóvel, as cores vivas
E logo estica os cabelos
Aprisionados entre dedos
Ágeis que batem cotovelos
Furados por pregos velhos
E pernas pra que te tenho
Amarradas a mil dúvidas
De asas desastradas
Atiradas à luz da lembrança
E com a sabedoria do defunto
Inundar-te de flores
Que dizem mais que a gente diz.

Haicai livre (XVIII)


Noite gelada
Dedos dormentes
Chão de farinha.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Haicai livre (XVII)


O cacto espeta o vento
Que ferido
Emite um lamento.

Nasce um poeta


Melado
Nascido em Maromba
É gato
E poeta nomadista
Em seu primeiro trabalho
O descaso inscrito
Nos olhos riscados:

Vbfg;^DSZZZZF

Miados
Por favor.

domingo, 17 de outubro de 2010

Primeiro ato


Desce a chuva
sobre lamentos 
de carros tensos
abafados por aplausos
das gotas no asfalto.

À mesa


A filosofia e a História
Espremidas de trapos
Entornadas em copos
Adocicadas com mel.

Líquido rascante liga
Pensamentos soltos na rua
O olhar faminto sob a lua
Atenções disparadas ao léu.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Haicai livre (XVI)


Calçada estreita
Súplicas mudas
A cada bofetada.

Poemoid


Nas flores das copas
Pousos entre saltos
Sorve o néctar solar
Mesclado ao vento.

O chão é seu jazigo
Espera expirar após
Imortais as cores
Nas lentes de uma câmera.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Colheita


Quando criança
Plantei um cachorro
E reguei com esperança
De frutos tão belos
Quanto a semente.

Os adultos cheios
De velhos saberes
E graça infantil
Colhem risadas
As mentes podadas.

Pois não é do gesto
Subversivo ao real
E à ciência professora
Que brota em versos
A muda poética?