Imagem acima: cafeigravura

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Edgar que ali pôs


Num dos milhares de rostos
Esculpidos na Notre-Dame
Vejo o meu, cuspido escarrado.

Ao anoitecer indeciso sobre o cume
A igreja tem as cores alteradas
E suas sombras trocam de lugar.

Da fachada ecoam sussurros
Suspiros em brisas pela praça
Um silvo corta o céu negro.

As gárgulas sorriem sob a noite
O branco reluzente das presas
O sorriso de raiva e fome.

Ouço o concreto se partindo
Algo se desprende e despenca
Absurda ausência se revela.

A queda emenda num vôo ligeiro
Sob sereno, inevitável o encontro.
Como será o hálito de uma gárgula?

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