Imagem acima: cafeigravura

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

De amor


amole o coração cego
de amor duro tal prego
Que racha dura perda

pobre coração mole
amor tonto de porre
mola que logo engole
pontas cegas de pedra

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Manifesto


Em defesa do trema
Sem nostalgia
Nada tema.

Haicai livre (XXII)


Fumaças de eucalipto
As formigas
Sonham com cigarras.

Haicai livre (XXI)


Cigarras cantam o sol
Contra os tambores
Do céu.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Noivado


meça a altura
do compromisso imenso
e com tal prova assuma
que não atura
amor tão denso.

Haicai livre (XX)


Sob sol convexo
Explodem
Cigarras de pressão.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Em breve


Amolar a lâmina
Pois o breve
Deve cortar.

Um tostão


Quando franze a testa
Entra logo num transe
E espeta as rugas com pelos
De sobrancelha trançada
Por onde desce e foge
Para ninguém sabe quando.

Uma dúvida de uma dúzia


Maiúsculas ou minúsculas
Formal ou casual
Cães ou gatos?
Êta baixinhas pretensiosas.

Recado


Vou lá, gente,
Ser trouxa na vida
Apanhar das palavras
E me curar com bebida.

Vejam que pra ter rima
Aposto até minha estima
Vou lá, gente,
E não volto.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Amigos de Paraty


Moendo areia
O artesão mangueia
Habituado às margens
Que não beijam o mar
São cuspidas pela gente.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dilema


debrucei-me sobre o natural
arruinado pelo real
e caí no colo dum negro perneta
que soprou num cachimbo
saci ou não saci
decide pr’onde ir
pra cima onde tudo rima
ou pro chão sujo de razão.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Niemeyer


As ripas trituram as costas encharcadas
Chibatadas úmidas de sangue algodoado.
Nas calças desfeitas de papel grudam ódio
Grudam poeira.
Arde o ar selvagem no rosto civilizado
Perdem-se os cabelos partidos em vales de fogo.
Uma placa de concreto fracassa
Ao projetar uma sombra que mente.
Fez-se um teatro de sombras contra o sol
Gente moderna desquitada da natureza
Desacreditada por curvas retas.
É preciso sofrer pelo estilo
Aberrações arborizadas são imprevisíveis,
Arredias aos feitios, não têm vez; estão vivas.
Mas é a vida que se alimenta de sol
Excretando sombra fresca, fria, porque morta.